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Lembranças embaralhadas de uma noite despretenciosa

Maria Padilha, Maria Quitéria e Maria Mulambo bebem um vinho, serenas, em casa. As garrafas se esvaziam. As entidades despertam. É o fim da calmaria. A rua, deserta, escura, não impõe medo, nem trava. Lá se vão elas, atrás de outros goles de alguma alegria. Não querem bares, baladas. Uma breve volta no bairro e a solução se apresenta. Dentro da loja do posto, algo se movimenta, e o aviso fica bem claro: lá tem cerveja gelada. Tudo bem que é de cevada e até há pouco ingeriam uva. Não pensam em mais nada. Escolhem a  marca, pagam. O tempo marca pra chuva. É hora de ir embora. Maria Quitéria não vê muita coisa, mas a pontaria é certeira. Tem dois lindos ali, parados - avisa -, como é que não vimos antes? Pede, aí, o telefone. Maria Mulambo não pensa. Para o carro e obedece. A volta pra casa é adiada e a conversa vai longe. Termina de manhã, onde começou só com as três.

Tão simples e tão essencial

Oito toques no telefone. Algumas chamadas. Viajo no tempo e no espaço e, como que, telepaticamente, estou lá com eles. A mãe ainda está ofegante, porque correu ao escutar o trim trim. - Oi! Tá todo mundo aqui. A vó serve o chimarrão enquanto dá uma conferida no que está preparando pro almoço. Rafala espia na geladeira o que vai ter de sobremesa. Rogus inventa alguma brincadeira e fez origamis pra toda a família. Luana se estica no sofá enquanto Luiza incentiva, sorridente, que registremos o momento pra posteridade. Rafa adora a ideia, porque descobriu o que quer ser quando crescer: retratista. E se oferece pra fazer os cliques. Samuel acorda com a cara inchada e confere o que está acontecendo. O cheirinho do churrasco invade a casa. Em volta do fogo, vô, Miro e o meu pai. Cada qual dá uma mexida na brasa e nos espetos. O mate acabou e alguém aparece com aquela caipirinha mais que gostosa. O salsichão e os coraçõezinhos estão prontos. Rogus quer servir. Passa o prato com o aperi

E como é que faz?

Quando esquece-se como faz pra dormir? Ok, isso aqui não é twitter, mas eu nunca acostumei com aquele negócio.

Declaração de um amor que tem limite

Pra mim, foi amor à primeira vista. Tu eras todo lindo: as formas, o cheiro, a cor. Era suave e fácil de lidar. Eu, que tanto sonhei em te ter, nem te imaginava tão perfeito. Me levava para todos os lados - graças a ti, conheci os cantos da cidade que mais gosto. Foi uma história bonita. Muito embora eu não entendesse muito sobre a tua "geografia", sempre fiz tudo pra cuidar bem de ti. Te perfumava todo, cuidava para que nada de mal te acontecesse. Assim que eu desconfiava de que havia algo de errado, ia logo me aconselhar com um amigo mais entendido, procurava logo algum especialista. Mas por que essa rebeldia toda? Precisava ser assim com alguém que te quer tão bem? Continuo te amando e vou cuidar de ti, ainda. Entretanto, que fique claro, que se essa birra for longe, te troco pelo primeiro mais atraente e acessível que aparecer. Entendido, Bibi-Móvel ?

Em Copacabana

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- Buenos dias. - Bom dia! - Ah, a senhora é brasileira... Entáum, olha só: eu sou artesão, e vou moxtrá pra senhora o meu trabalho (com um maço de fios de metal na mão, puxa um e começa a moldar em forma de flor)... - Não, obrigada. -  Vô moxtrá pra senhora (fazendo pequenos objetos), a senhora olha, e só compra se goxtá. - Certamente eu vou gostar (sorrindo). Mas eu não tenho dinheiro para pagar. Desculpa... - Mas, olha, eu... - Moço, desculpa, eu não tenho dinheiro mesmo. - Nunca ví beber cerveja sem dinheiro. Um dia eu ainda vou aprender a fazer isso - e sai, furioso.

Corpo fechado?

O namoro havia terminado já havia alguns meses, mas os cheques emprestados pra ex não paravam de voltar. Um velho conhecido do pai deu todas as dicas pra se livrar do problema e estava quase tudo resolvido. Quase. Os cheques foram sustados, uma ocorrência foi registrada na polícia e, conforme voltavam, eram entregues para o banco para serem cancelados. Só que tinham dois, isso lá na década de 90, de uns R$ 200 (bastante pra época), que ele não conseguia descobrir de onde eram. Certo dia, o telefone toca. Do outro lado, uma voz masculina. - Fulano de tal? - Sim. - Tenho aqui dois cheques de R$ 200 no seu nome que voltaram. - Olha, eu estava mesmo atrás desses cheques. De onde fala? - Seguinte, não interessa de onde fala, interessa que eu prestei um serviço e não fui pago por ele. - Quem é que lhe deu esses cheques? Emprestei os cheques em branco e a pessoa não me pagou. Me passou pra trás. Olha, eu registrei até ocorrência na polícia. Fui vítima de um golpe e não vou pagar. -

Rancho de amor à Ilha

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Linda declaração do Mestre Zininho, considerada hino de Florianópolis. Se eu tivesse o mesmo talento, teria escrito a mesma coisa.   Um pedacinho de terra, perdido no mar!... Num pedacinho de terra, beleza sem par... Jamais a natureza reuniu tanta beleza jamais algum poeta teve tanto para cantar Num pedacinho de terra belezas sem par! Ilha da moça faceira, da velha rendeira tradicional Ilha da velha figueira onde em tarde fagueira vou ler meu jornal. Tua lagoa formosa ternura de rosa poema ao luar, cristal onde a lua vaidosa sestrosa, dengosa vem se espelhar...