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Dia do gaúcho

Não sou chegada ao tradicionalismo gaúcho que beira o facismo. Mas o povo gaúcho tem suas coisas boas, entre elas, a musicalidade.

Ela nunca mais seria a mesma

Quando ela viu aquilo, achou que não deveria esquecer. Criou uma pastinha no próprio correio eletrônico, onde guardou uma por uma das mensagens que os dois - ele e a outra - haviam trocado. Ela achava que poderia sentir saudade, um dia. E tinha medo de esquecer quanto mal aquilo tinha lhe feito. De não lembrar, no futuro, o quanto tinha se sentido feia e sem graça. Traída, de verdade. Sem chão, sem saída. De como todas as músicas bregas, até a mais ridícula que ela pudesse lembrar, haviam feito sentido naquele momento. E que, por mais engraçado que isso pudesse soar, não teve a mínima graça. Vai que um dia ela levasse em consideração toda a parceria, todo o tesão que já tiveram um pelo outro. Ela poderia sofrer quando lembrasse o quanto era feliz ao lado dele. Feliz a ponto de ter vontade de dar pulos. As aventuras juntos, as refeições feitas no mesmo prato. As trocas de olhares que diziam tudo, sem precisar de palavras. A pastinha ficou lá por muito tempo. Mas, naquele dia, ela

Curiosidade indigesta

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O que o amor constrói, a internet destrói, disseram a ela certa vez. Nesse caso, ela nem sabia bem se era amor. Era semiapaixonada por ele, costumava dizer para as amigas mais chegadas. Ele era um menino com pegada de homem, um homem com jeito de moleque. Os dois não se viam sempre. Mas curtiam se encontrar de vez em quando. Ela ficava abobada, toda vez que o telefone tocava e o visor do aparelho mostrava que era ele do outro lado da linha. No day after, o sorriso era de boca a boca. Eram ficantes fixos, pra não dizer outra coisa. Ok, nem tão fixos assim. Não interessava a vida sentimental de um para o outro. Contava só aquela coisa boa, de dividir a cama, de trocar calor, e até de confiar algum segredo. Os dois pareciam pessoas confiáveis um para o outro. Mas aquele dia ela entendeu porque ele não atendeu o último telefonema. Aquela mensagem na página dele doeu fisicamente no estômago. Era do jogo, mas foi o suficiente para ela não querer sentir aquilo denovo. Outras mensagens pr

Medo

- Guria, esses dias fiquei com medo do motorista do táxi que peguei para ir pra casa. - Por que? Ele tentou te estuprar??? - Não, guria. Ele me falou umas coisas. - Tá, mas tipo o quê? - Eu tinha enchido a cara num bar e achava que tava parecendo feliz. Aí o cara olhou bem pra mim e disse: "tu tá triste porque terminou com o namorado, né?" - Sério? Tem certeza que não é um conhecido? O cara podia estar te sacaneando. - Nunca vi na vida. Mas já fiquei com a pulga atrás da orelha. Fiquei mais assombrada quando ele se despediu de mim. Me deu um conselho. Disse que, se eu tava em dúvida, era melhor terminar mesmo. Que quando é amor, a gente reconhece de longe. - Talvez seja bom levar em consideração, amiga.

Eu torço pro Mano!

Aula de Telejornalismo na Unisc, em 2002, pouco antes da tranferência para a UFSM. Eu e a colega Cátia colocamos a cabeça para funcionar. Precisávamos de uma pauta para a reportagem que renderia a principal nota para o semestre. Não lembro qual foi a nossa nota. Mas o trabalho de faculdade, graças à Cátia  me apresentou um cara massa, mesmo. - O Guarani tá com um baita técnico. O cara é motivador, e é brabo que só ele. Tem o estilo do Felipão. A gente acompanha a final do Campenato Gaúcho, vai ser em Venâncio, e mostra a emoção dele na borda do campo! A Cátia entendia de futebol. Eu nem sabia em que série o Guarani jogava. Nem quem era "o tal do Mano Menezes". Meu pai, na época, adiantou que o homem era bom, mesmo. Tinha nascido em Passo do Sobrado e ainda ia fazer nome. - Dizem que o senhor é parecido com o Felipão. O que acha disso? - Quem não gostaria de uma comparação dessas? Ele é o melhor técnico do mundo, hoje. Fico feliz. Mas é bondade das pessoas. O jogo da fin
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Foto: Caio Marcelo Barra da Lagoa. Redes do rancho de pesca do grupo Saragaço secam ao sol. E uma papagaia de pirata perambula na praia.

O amor na prática é sempre ao contrário

Ela acorda e a amiga pergunta: - Sabia que cárie é contagioso? Ela mal lembra o que aconteceu na noite passada. Poucos têm memória tão imune ao álcool para lembrar com precisão. Dois segundos se passam. Ela agora sabe do que a outra fala. Puro preconceito. Era um menino bonito e carinhoso. - Tu te deu conta de que era um guri de rua? Pode ser. Mas eles se despediram desenhando corações no ar. Foi bonito. Engraçado, mas tinha sua ternura. A noite se aproxima. Ela tem encontro marcado com um ex-caso que não vê há tempo. Ele continua inexplicavelmente interessante, embora fútil. Estão na mesa de um bar. Alguém se aproxima. Ela conhece de algum lugar. Sim. É o guri de rua. - Posso sentá aí, gata? - Claro! Tudo bem contigo? - Que tal a gente sair daqui e terminar o que a gente começou ontem? Ela faz de conta que nada aconteceu, sem cortar, nem dar corda. O clima é tenso. Ela precisa mijar, mas é claro que não vai deixar os dois sozinhos. Os 10 minutos seguintes são longos. O rapa