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O sagrado que habita em nós

Até então eu não tinha aprofundado nenhuma conversa sobre religião com o meu filho, 5 anos de idade. Em algum momento da vida ele até quis saber porque eventualmente eu acendia uma vela, em casa, e eu disse que era para pedir ou agradecer algo a Deus, à Deusa, aos Orixás, aos amigos espirituais que são estrelas no céu e olham por nós. Mas nunca catequizei a criança, nem entrei em detalhes. Neste domingo à noite, no ônibus, voltando para a nossa casa depois de dois dias na cidade do avô que está doente, convido o pequeno a fazer uma oração. Duas rezas para os nossos anjos da guarda, um Pai Nosso, uma Ave Maria, improviso uma conversa com o divino, rogando por saúde e proteção ao vovô (meu pai), para que nos concedam discernimento neste momento difícil. Em determinado momento o filho começa a coxixar baixinho, de cabeça baixa, olhinhos fechados e mãozinhas unidas. Perguntei o que ele estava falando e ele: "Não estou falando com você agora, mamãe". Terminou de coxixar sem qu

Abusivo

Em meio à tortura psicológica alternada com momentos de profundo "amor", uma frase que ele repetia era: "Nós ainda vamos rir de tudo isso". Não vamos não. Não teve graça nenhuma. E você não terá chance de fazer nada nem parecido comigo novamente. Nem de rir do que aconteceu.

Precisamos lutar por justiça, mas não podemos contar com ela

Precisamos lutar por justiça, mas não podemos contar com ela. Não dá pra tocar a vida como se fosse justa. Me conformo com isso? Não. O que tenho é um mundo injusto e é com isso que lido. Sigo peleando, em outros momentos criando estratégias, otimizando o tempo, terapeutizando, trabalhando o dobro, amando e cuidando, atenta pra não enlouquecer, construindo saídas, gozando em meio ao caos, vivendo. Tentando estar atenta e forte, como cantou Gal.

Olha pra ela, presta atenção nela

Aprendi com a dor que preciso senti-la quando ela se apresenta. É preciso olhá-la. Fazer de conta que ela não está ali não vai fazer com que ela desapareça.

Saia e deixa que te saiam

Encara o risco de encontrar/construir o teu lugar. Não te angustia quando te derem as costas. Não tenha medo, pequena, o mundo é grande e tem um lugarzinho pra ti. Um lugar que você quer e onde te queiram também. Não tenhas medo do que não conheces. Ou vai com medo e tudo. Segue o teu coração, desbrava. Saia, deixe que te saiam, que saiam. É o preço que se paga por viver o que se quer e o que é seu. Cuida da tua vida e deixe que cuidem das suas.

Sonho de parto

De repente percebo que a imensa barriga havia baixado e eis que a bolsa se rompe. Aviso que talvez a criança esteja nascendo. Sinto o quadril se abrir, deixo. Uma pessoa que está próxima pede licença para verificar se a criança está nascendo. "Já dá para ver a cabeça", avisa. Não há tempo de ir para a maternidade. Me acomodo ali mesmo, de cócoras e a pessoa ajuda a saída do bebê, o pega pelas mãos. É um bebê perfeito e faminto. "Como corta o cordão umbilical?" Ninguém sabe. Me emociono. Pego o bebê no colo, ainda estamos ligados pelo cordão e dou de mamar. Logo seríamos levados a alguma maternidade para receber cuidados médicos. Acordo impressionada com a força desse sonho. Mais tarde me dou conta de que traduziu o meu ~delírio humanista~ de ter tido e ter proporcionado ao meu filho um parto respeitoso. Ali eu não estava no controle, as pessoas em volta não estavam no controle. O meu corpo estava no controle e foi auxiliado, com empatia e solidariedade, em tod

Mulher de carne e osso

De carne e osso. Um corpo. Humana. Nem santa, nem diaba. Nem anja, nem monstra. Nem heroína, nem imprestável. Sou mulher de carne e osso. Um corpo humano de carne, osso, alma, coração, intelecto, talento, vontades, necessidades, luz, sombra, imperfeições e limitações. Tudo isso e apenas isso.