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Alívio

Aí foi difícil e desafiador admitir pra ela mesma que ele tinha sido uma pessoa importante na vida dela. E foi um alívio contar isso pra ele. Acolhendo tudo que foi, a vida seguiu.

A criança que queria morar no samba

Eu tinha uns 9 anos de idade e estávamos em uma rápida passagem pela praia. Eu, meu pai, minha mãe e meu irmão dois anos e meio mais novo. Eu não me lembro muito bem de detalhes, só recordo que, de uma forma geral, as coisas não iam bem no núcleo familiar naquele momento. Era tardinha, tínhamos passado o dia na beira do mar, o clima estava pesado, apesar das férias. Caminhávamos no calçadão quando ouvi o som que vinha de um quiosque. Nos aproximamos. Uma roda de samba. A minha vontade era de morar ali, naquela cadência, com aquele batuque, em volta daquela roda. Já não me pesava mais o climão, o meu mundo estava mais leve. Trinta anos depois, eu enfrentava o maior desafio da vida. Eu estava mais tensa do que nunca. Não lembrei desse momento na praia. Mas criei uma playlist com as músicas que eu mais gosto. Ela me salvou da tristeza muitas vezes e eu consegui me conectar com a alegria de novo. Eu ainda não moro no samba, mas visito sempre que posso.

Sem volta

Demorou, mas Agora que constatei que sempre tento voltar Pra lugares que não existem mais E dar uma nova chance Ao que já teve possibilidade de ser bom pra mim Mas não foi Ou que foi bom, mas já passou, já teve seu tempo Não volto mais

Estávamos ali

Eles estavam ali Os dois Que um dia eu quis Eu estava lá Onde eles estavam Onde já estive com eles Eu também estava lá Não por eles Outras pessoas me levaram até lá Não fazia mais sentido Nem fugir Nem procurar E eles estavam lá Estávamos ali E eu não me movi por eles

Relato de parto

Fazem 3 anos, 9 meses e 7 dias do dia do parto. Ainda espero pacientemente pelo dia em que conseguirei falar sobre ele.

Escrevo como quem precisa

Quando escrevo sobre mim, escrevo como quem precisa, como quem anseia, como quem tem fome, como quem deseja. Ainda assim, reluto. O que produzo não me parece à altura do que sinto. O que sinto não interessa a ninguém. Depois da escrita, o alívio. Como quem mija depois de longas horas de aperto, como quem sacia, como quem goza. Transbordo. Enfim, o fluxo, o deleite. Sigo mais leve.

Deixar pra trás

Deixei alguns amores pra trás. Em comum entre eles, a raiva que eu senti por algum mal que tinham me feito, um vacilo ou descuido. Sofri sim, mas sigo em frente sem olhar pro que ficou. Sei lidar com o luto do que não me fez bem. Mas como me afastar do que não doeu? Preciso mesmo correr pra longe? Não consigo ainda. Ressignifico, transformo. Preciso sofrer pra deixar de verdade? Eu sigo, mas costumo olhar nem que seja de longe. Às vezes me mantenho amiga. Me pergunto se em vez de apenas soltar, não deveria dar as costas. No seu caso específico, preciso matar a expectativa. Mas a verdade é que ainda me alimento das migalhas que você me dá. De toda forma, não é sobre o seu processo, é sobre o meu.