O teu passado te condena
(Escrito em maio de 2009)
Tamanduá não teve dúvida. Dois revólveres municiados seriam suficientes. Um acomodado em cada lado da cintura. E lá se foi. Ficou de tocaia no portão da casa do filho-da-puta.
Estava escuro e o Beco da Jóia Rara parecia ainda mais escuro. O Centro era logo ali e mesmo ali, no bairro Agridoce, haviam várias ruas asfaltadas. Postes de luz. Mas não era o caso daquele caminho de chão com saída pra lugar nenhum.
Mesmo assim, Tamanduá conhecia cada canto daquele lugar e poderia caminhar tranquilamente por ali sem esbarrar em nada não quisesse, mesmo que fosse cego. Privilégio - ou azar - de poucos que tinham visto a comunidade nascer.
Não foi preciso muito tempo para a movimentação na casa começar, naquela casa de tábuas desalinhadas e infestadas de cupim como tantas outras dali.
A mulher do desgraçado se aproximou do portão. Jesuíno estava tirando a moto do pátio. A hora dele tinha chegado.
Como se fosse um filme de bangue-bangue, Tamanduá sacou as duas armas e descarregou a munição toda na direção do desafeto. Ele merecia cada disparo.
A mulher de Tamanduá, Mileide, e de Jesuíno, Dieini, não se davam. Eram vizinhas. Mas o santo de uma não batia com o da outra. Naquele dia, antes da sinfonia de tiros, as duas tinham trocado umas verdades.
As mulheres e os veados, em geral, sabem bem o que dizer quando querem machucar.
- Teu marido já foi meu - alfinetou Mileide.
- O quê?
- Corria atrás de mim como um cachorrinho. A gente teve um casinho, mas eu não curti, não. Eu chutei e tu catou.
Dieini ficou puta. Foi tirar as caras com o marido.
- Tive que ouvir aquilo daquela vagabunda. Agora vai querer negar?
A coisa estava feia para Jesuíno. O que deu na cabeça daquela outra? Não tinha nada que fazer intriga para complicar o casamento dos alheios. O jeito era falar com o Tamanduá. Ele daria um jeito na mulher. Um para-te quieto.
- Cara, a tua mulher foi fazer intriga com a minha. Foi falar do caso que a gente teve lá no passado, eu e ela. Acho que tu devia dizer pra ela não fazer mais isso...
- Tu e a Mileide tiveram um caso? Aaaaaaah, tá...
Não demorou muito para conseguir dois revólveres. O passado de Jesuíno o condenava. O condenou.
Tamanduá não teve dúvida. Dois revólveres municiados seriam suficientes. Um acomodado em cada lado da cintura. E lá se foi. Ficou de tocaia no portão da casa do filho-da-puta.
Estava escuro e o Beco da Jóia Rara parecia ainda mais escuro. O Centro era logo ali e mesmo ali, no bairro Agridoce, haviam várias ruas asfaltadas. Postes de luz. Mas não era o caso daquele caminho de chão com saída pra lugar nenhum.
Mesmo assim, Tamanduá conhecia cada canto daquele lugar e poderia caminhar tranquilamente por ali sem esbarrar em nada não quisesse, mesmo que fosse cego. Privilégio - ou azar - de poucos que tinham visto a comunidade nascer.
Não foi preciso muito tempo para a movimentação na casa começar, naquela casa de tábuas desalinhadas e infestadas de cupim como tantas outras dali.
A mulher do desgraçado se aproximou do portão. Jesuíno estava tirando a moto do pátio. A hora dele tinha chegado.
Como se fosse um filme de bangue-bangue, Tamanduá sacou as duas armas e descarregou a munição toda na direção do desafeto. Ele merecia cada disparo.
A mulher de Tamanduá, Mileide, e de Jesuíno, Dieini, não se davam. Eram vizinhas. Mas o santo de uma não batia com o da outra. Naquele dia, antes da sinfonia de tiros, as duas tinham trocado umas verdades.
As mulheres e os veados, em geral, sabem bem o que dizer quando querem machucar.
- Teu marido já foi meu - alfinetou Mileide.
- O quê?
- Corria atrás de mim como um cachorrinho. A gente teve um casinho, mas eu não curti, não. Eu chutei e tu catou.
Dieini ficou puta. Foi tirar as caras com o marido.
- Tive que ouvir aquilo daquela vagabunda. Agora vai querer negar?
A coisa estava feia para Jesuíno. O que deu na cabeça daquela outra? Não tinha nada que fazer intriga para complicar o casamento dos alheios. O jeito era falar com o Tamanduá. Ele daria um jeito na mulher. Um para-te quieto.
- Cara, a tua mulher foi fazer intriga com a minha. Foi falar do caso que a gente teve lá no passado, eu e ela. Acho que tu devia dizer pra ela não fazer mais isso...
- Tu e a Mileide tiveram um caso? Aaaaaaah, tá...
Não demorou muito para conseguir dois revólveres. O passado de Jesuíno o condenava. O condenou.
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